Contos do Café

Conto número 01:
Decepção

Eu confesso que estou com medo, nunca senti tanto medo assim.
O suor frio desce pela minha pele, meus pelos estão arrepiados. Tento tirar meu pensamento desta situação, mas o ar gelado desta sala não deixa me concentrar. Só consigo pensar nestes olhos vidrados em mim de rostos que não consigo identificar, esperando o show começar. Eu olho para o lado e lá esta uma abertura retangular na parede com dois olhos vibrantes me avisando que ele vai gostar muito do que esta prestes a fazer.
Sinto uma presença atrás de mim, mas não posso me virar para ver, estou incomodado com isso. Apesar de saber que é alguém, a impressão que me passa é que não é deste mundo. Forço meus olhos para o lado para tentar me acalmar e ver que é simplesmente mais um dos sádicos, mas a minha vista embaça e lembro que tenho que voltar a fitar os olhos pelo retângulo para saber se ele ainda está lá me observando.
A sensação de que vai doer é mais torturante do que a própria dor, não é mesmo?
É quando percebo que não importa se a figura atrás de mim é humana ou não, o que vai acontecer em instantes é inevitável.

De repente começam a se movimentar, parece que vai acontecer algo finalmente, essa angustia está me fazendo ter ânsia de vomito e se eu vomitasse seria horrível, pois estou amordaçado.
Tudo ficou em silêncio. Vejo pelo canto do meu olho um braço apontado em direção a porta. Um sinal de positivo. Ouço um barulho metálico instintivamente meu corpo todo treme e solto um grunhido – Pelo amor de Deus não – uma risada vem de algum lugar, enquanto choro feito um recém nascido, sinto o ar sendo tirado dos meus pulmões, tudo escurece, um liquido morno escorre pelas minhas pernas, estranhamente não está doendo, na verdade, ainda nem começou, foi o som da maçaneta da porta, eles se divertem com meu desespero. Não importa.

Sem dignidade nenhuma puxo o ar de volta, tento me acalmar, o morno da minha urina correndo pela cadeira e molhando minha calça me aquece um pouco. Será que essa imagem agrada esses espectadores. Estou como uma criança resfriada e com dor em algum lugar mas não se sabe onde.
Pronto! Agora não consigo mais aguentar a angustia e lá vem o vomito. Percebo que não consigo respirar, estou engasgando. As lágrimas dos meus olhos não são de dor nem medo. Será que ninguém vê que o espetáculo vai acabar antes de começar. Que ironia! Estou morrendo antes de ser morto. Está saindo pelo meu nariz agora. Percebo um movimento rápido, estão tirando a mordaça...isso seus hipócritas, corram, tentem impedir, eu não quero desapontar ninguém mas perdi a sensação do meu corpo. Torpor. Está tudo muito quieto...

Eles não acreditam no que veem. Sinto que decepcionei muita gente. Esperavam mais de mim. Esperavam me ver fritar naquela cadeira elétrica. Esperavam expiar em mim todos os seus pecados e desejos mais obscuros.
Mas que sortudo.
Me livrei desta.
Saí da vida da maneira que me dava prazer: asfixiado.
E não dei esse prazer para ninguém.



4 comentários:

Avalon Sama disse...

Muito bom!
Realmente adorei esse conto... Essa forma de fim de vida por asfixia... Me lembrou um conto que li há uns tempos atras, do cara que escreveu o Clube da Luta... Vou dar uma procurada por aqui...
Novamente parabéns pelo conto caro Maiko!

Avalon Sama disse...

E aqui tem o link do conto... Mas já digo que é totalmente perturbador e sufocante... Dica: tente ler o conto segurando a respiração!

http://medob.blogspot.com.br/2011/10/18-triplas-chuck-palahniuk-conto-do.html

Zumbi P disse...

Valeu Avalon!! Ainda temos mais alguns contos para postar... mas vamos com calma.. E eu já tinha lido esse conto e é realmente perturbador...Só de imaginar eu fico com um aperto... no coração..ahauhua

Avalon Sama disse...

Coração né? Sei sei!
asuhasuahsuahsuahsuhas

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